O tema regionalização mexe com interesses. Por isso, não é pacífico. Do que se trata é de construir uma forma diferente de distribuição de poder e, nesse processo, há quem ganhe e quem perca.
Em Portugal, quando dá jeito, fazem-se discursos laudatórios sobre regionalização, mas o receio, o temor próprio de quem não está disposto a assumir riscos e a desconfiança nos “provincianos” levou a que o nível regional, embora tenha sido consagrado na Constituição da República e a Assembleia da República ter aprovado, em 1991, por unanimidade, a Lei da criação das Regiões, essas, nunca viram a luz do dia.
A cultura dominante na classe política no nosso País é claramente conservadora e portadora de desconfiança em relação às capacidades dos que vivem fora da capital. Basta analisar os argumentos utilizados por muitos agentes políticos contra a regionalização. São todos de carácter defensivo, invocando o enorme despesismo que daí resultaria, o descontrolo das finanças públicas, o aumento de número de cargos políticos e de corrupção.
Sobre o receio da derrapagem das finanças públicas, se o País foi intervencionado por instâncias internacionais, por situações de banca rota e por mais do que uma vez nos últimos 40 anos, foi uma administração de forte pendor centralista a única responsável e, na última intervenção da “Troica”, foi o nível municipal o que melhor respondeu à tomada de medidas de contenção financeira. Acresce que será sempre possível impor regras sobre a limitação de défices, quanto à admissão de pessoal e às despesas correntes e de investimento das Regiões
Sobre os pontos relacionados com mais burocracia, novos “Terreiros do Paço”, novos agentes políticos, esses são riscos que estarão presentes numa reforma desta natureza e a atitude prudente aconselha que estejam bem identificados e que se adotem os procedimentos necessários para serem mitigados.
Na moderna conceção de governo o centro só deve intervir quando os níveis de administração situados a uma escala inferior, em razão de uma dada matéria, não o podem fazer. Enquanto instituições como a Igreja Católica e a União Europeia adotaram e consagraram em lei e na prática o princípio da subsidiariedade, nós, por cá, continuamos a hesitar.
A grande dificuldade para que a regionalização se faça tem a ver com o facto de o poder dominante não ser portador de uma cultura reformadora, dinâmica e disposta a correr riscos.
Assim, é muito difícil mobilizar vontades para alterar práticas que podem ser reconhecidas como necessárias, mas que nunca vão em frente porque exigem fortes convicções, ingrediente que escasseia na classe política.
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