Os hospitais não estão a aproveitar as suas capacidades para a recolha de órgãos para transplantes. Dos 42 hospitais portugueses habilitados a efectuar essa prática clínica, em 2006, apenas 22 a realizaram, revelou ontem Manuel Abecassis, presidente da Organização Portuguesa de Transplantação (OPT), num seminário na Universidade dos Açores.
Por outro lado, salientou o especialista, também director do serviço de transplantação de medula óssea do IPO em Lisboa, cerca de 70% do total das colheitas ocorreram em apenas cinco unidades. No entanto, adiantou, "no último ano Portugal conseguiu inverter a tendência de descida no número de colheitas, embora seja necessário fazer muito mais para responder às necessidades".
"Temos listas de espera para rins, por exemplo, com largas centenas de pessoas", afirmou, dizendo que órgãos como o pulmão, fígado e coração são também necessários.
"Trata-se de uma responsabilidade colectiva, para que esta prática evolua. Os médicos e as direcções hospitalares têm que ser motivados para a colheita de órgãos", sublinhou Manuel Abecassis, acrescentado que há "falta de informação, não há disponibilidade e este é um trabalho contínuo e persistente".
A poucos dias de desaparecer a OPT e entrar em funcionamento a Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação (ASST), aprovada em Conselho de Ministros, no passado dia 22 de Fevereiro, Manuel Abecassis não comenta esta alteração, dizendo apenas "que é uma questão de reorganização do Ministério da Saúde". Quanto ao papel da nova estrutura diz "Não vou ter responsabilidades nessa direcção".
O presidente da ASST, Eduardo Barroso, defende uma maior sensibilização de médicos e estruturas, para uma maior recolha de órgãos e assim aumentar os transplantes.
Ontem, antes de uma reunião com a Sociedade Portuguesa de Transplantes e especialistas em Cuidados Intensivos, Eduardo Barroso disse ao JN que era "essencial sensibilizar, em particular, os especialistas dos cuidados intensivos, para olharem os cadáveres ligados aos ventiladores como possíveis dadores".
"O papel desses médicos é salvar vidas e fazem um trabalho excelente, mas infelizmente não se consegue sempre, por isso é muito importante que entendam e transmitam a mensagem que tem que haver uma resposta rápida para salvar muitas vidas".
Quanto ao trabalho que tem sido desenvolvido até agora, este especialista afirmou que "muito foi feito, mas podia ter sido melhor. Portugal era o segundo melhor na União Europeia em recolha de órgãos, caímos para o sexto lugar em termos de colheitas e os transplantes estão directamente relacionados". Eduardo Barroso referiu ainda que a questão não se prende com a oposição da população. "De acordo com a lei a recolha de órgãos é permitida a todo aquele que não tenha manifestado a sua oposição. No entanto, e apesar da lei não obrigar, as famílias são sempre informadas que o seu familiar é um possível dador e são poucas as que recusam".
03.03.2007 Fonte: Jornal de Notícias
Não há inqueritos válidos.