Um trabalho científico permitiu revelar importantes mutações genéticas directamente implicadas no aparecimento e desenvolvimento de tumores, muitas delas desconhecidas até agora. Os resultados desta investigação, realizadas no Reino Unido, foram publicados na revista "Nature".
A descodificação genética do cancro e as suas mutações é o principal objectivo de um projecto internacional denominado "Cancer Genoma Project", tendo como visão final encontrar tratamentos adequados para cada tipo de cancro.
Um tumor maligno é o resultado de mutações genéticas e outras alterações em determinadas células. Até agora tinham sido identificadas alterações em 350 genes, dos 20 mil que formam o ser humano, e nenhuma investigação coloca de parte qualquer gene no processo de desenvolvimento de um cancro.
Por essa razão, o estudo realizado no Reino Unido, no Institut Wellcome Trust Sanger, é considerado mais um passo. Esta equipa de cientistas conseguiu fazer a sequência de 500 genes extraídos de 210 amostras de diferentes cancros, como o pulmão, mama, estômago e outros. Conseguiram ainda identificar mil mutações diferentes, umas consideradas relevantes no desenvolvimento do tumor e outras sem relevância.
Esta equipa centrou a sua pesquisa em 518 genes, denominados de "cinases", enzimas já amplamente estudadas e que têm um papel importante no desenvolvimento de um cancro.
Este estudo conseguiu ir mais longe e identificar 158 mutações detectadas em 120 genes que são os principais responsáveis pelo processo de desenvolvimento do tumor.
Para Manuel Teixeira, responsável pelo serviço de Genética do IPO do Porto, este é mais um passo para conseguir trabalhar o que são as terapias direccionadas. "Conseguindo saber quais as mutações principais de cada tumor é possível imaginar o seu tratamento", referiu, acrescentando "o conhecimento da biologia do tumor específico permitirá desenvolver uma terapia sem efeitos laterais , como a quimioterapia".
Este especialista refere ainda que este trabalho representa um grande esforço de sequenciação de número de genes e número de amostras "o que resulta numa perspectiva alargada".
Uma perspectiva que vai ser mais ampla com o início de outro estudo, a realizar no EUA, que pretende estudar 12500 amostras tumorais e assim obter o maior mapa genético do cancro.
Em Portugal, o próximo passo poderá ser individualizar as mutações de determinados tipos de cancro dirigindo a investigação para a terapêutica.
Estudo no IPO O estudo sobre o genoma do cancro ontem publicado na "Nature" é considerado pelo responsável do serviço de Genética do IPO do Porto, como um amplo projecto que não seria possível em Portugal, mas cujos resultados poderão ter continuidade de estudo no nosso país. Para Manuel Teixeira, este trabalho representa "um grande avanço, porque permitiu estudar toda uma família de genes que se sabe ter grande influência na origem dos tumores". Agora, adiantou "é necessário individualizar cada tumor, ou seja perceber quais as mudanças genéticas em cada um e avaliar qual é a que está na origem". Um trabalho que já pode ser desenvolvido pelo serviço de Genética do IPO do Porto. "Com os meios que temos podemos, a partir dos genes que estão identificados para os cancros da próstata e da mama, que são os que mais estudamos, e individualizarmos as respectivas mutações. Para depois fazermos a transferência para a prática clinica".
09.03.2007 Fonte:
Jornal de Notícias
Data de introdução: 2007-03-09