Mais de 26 mil crianças com menos de cinco anos morrem por dia em todo o mundo, a maioria das quais por causas evitáveis, alerta o relatório "A Situação Mundial da Infância 2008: A Sobrevivência Infantil", da Unicef. O documento, que reúne dados da Unicef, da OMS e do Banco Mundial, assinala que, apesar destes valores, "o número anual de mortes de crianças foi reduzido para metade, de cerca de 20 milhões em 1960 para 9,7 milhões em 2006". O relatório foi apresentado no Palais des Nations, em Genebra, com a presença de Ann Veneman, directora-executiva da Unicef, Margaret Chan, directora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), e Bience Gawanas, Comissária para os Assuntos Sociais da União Africana.
Ainda de acordo com a agência das Nações Unidas para a infância, "mais de 80 por cento de todas as mortes de menores de cinco anos em 2006 ocorreram na África subsariana e no Sul da Ásia". À cabeça da lista nesta categoria está a Serra Leoa, com 270 mortes por mil nados-vivos, seguida de Angola, com 260 mortes e do Afeganistão, que regista 257 mortes por mil nados-vivos.
Por outro lado, a taxa de mortalidade de menores de cinco anos na China diminuiu de 45 mortes por cada mil nados-vivos em 1990 para 24 em 2006 (uma redução de 47 por cento), enquanto na Índia baixou 34 por cento. Ainda no mesmo parâmetro, entre os países considerados em desenvolvimento, a nota mais positiva vai para Cuba, com sete mortes por mil nados-vivos.
As conclusões apresentadas mostram também que as regiões que não estão em vias de cumprir as metas da sobrevivência infantil do ODM 4 (Objectivo de Desenvolvimento do Milénio: Reduzir a mortalidade infantil) se situam no Médio Oriente e Norte de África, Sul da Ásia e África subsariana, incluindo a África Oriental e Austral, Ocidental e Central.
Em 2006, na África subsariana ocorreram 22 por cento dos nascimentos globais e 49 por cento das mortes de menores de cinco anos.
Dos 46 países que compõem a África subsariana, apenas três estão a caminho de cumprir o ODM4 - Cabo Verde, Eritreia, e Seychelles - revela a Unicef, que sublinha a necessidade de reduzir de novo para metade as taxas de mortalidade infantil até 2015.
"A Situação Mundial da Infância 2008: A Sobrevivência Infantil" refere ainda que, desde 1990, houve 61 países que reduziram a taxa de mortalidade infantil em pelo menos 50 por cento.
Para a Unicef, o facto de quase um terço dos 50 países menos desenvolvidos terem reduzido as taxas de mortalidade infantil em 40 por cento ou mais desde 1990 "prova de que os progressos para as crianças podem ser realizados em países pobres se existirem vontade política e estratégias sólidas".
O relatório aponta como exemplares, neste aspecto, os casos das Maldivas, Timor-Leste, Butão, Nepal, Bangladesh, República Democrática Popular do Laos, Eritreia, Haiti, Malauí, Samoa, Cabo Verde, Ilhas Comoros, Moçambique, Etiópia e Ilhas Salomão.
De acordo com a Unicef, entre os factores agravantes da mortalidade nas crianças menores de cinco anos estão causas neo-natais (36 por cento), pneumonias (19 por cento), diarreias (17 por cento), malária (oito por cento), sarampo (quatro por cento) e SIDA (três por cento).
O documento chama também a atenção para o papel desempenhado pelos conflitos armados, aos quais estão muitas vezes associadas a deslocação de populações e a insegurança alimentar.
"Dos 11 países onde 20 por cento ou mais das crianças morrem antes dos cinco anos de idade (Afeganistão, Angola, Burkina Faso, Chade, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger e Serra Leoa), mais de metade sofreram um conflito armado de grandes proporções desde 1989", sublinha o relatório.
A Unicef destaca igualmente que "um factor comum no número de mortes de crianças é a saúde das mães, das quais mais de 500 mil morrem anualmente devido a complicações associadas à gravidez ou ao parto".
Segundo o estudo, nos países em desenvolvimento um quarto das mulheres grávidas não recebe uma única visita de cuidados pré-natais por parte de um profissional de saúde qualificado e apenas 27 por cento das mulheres com idades compreendidas entre 15 e 49 anos dá à luz em instalações de saúde.
O risco de uma mulher morrer por causas relacionadas com a gravidez é de 1 em 17 na África Ocidental e Central comparativamente a 1 em 8.000 nos países industrializados.
As raparigas menores de 15 anos têm cinco vezes mais probabilidades de morrer durante o parto do que as mulheres na casa dos 20 anos e se uma mãe tiver menos de 18 anos, o risco de o seu bebé morrer durante o primeiro ano de vida é 60 por cento superior ao de um bebé cuja mãe tenha mais de 19 anos.
O ranking de "A Situação Mundial da Infância 2008: A Sobrevivência Infantil" revela também que as taxas de mortalidade materna nos países em desenvolvimento são mais elevadas no Níger, onde as mulheres têm uma em sete probabilidades de morrer durante a gravidez ou o parto, seguindo-se a Serra Leoa e o Afeganistão, onde as mulheres grávidas têm uma em oito probabilidades de morrer.
Ainda entre os países em desenvolvimento, as taxas mais baixas ocorrem na Argentina, onde o risco de morte durante a gravidez ou o parto é de um em 530, na Tunísia, onde essa percentagem é de um em 500.
23.01.2008
Data de introdução: 2008-01-23