Prioridade à Educação

1. O tema da educação vem sendo manchete. Nem sempre pelas melhores razões e algumas vezes exactamente pela sua falta. E muitas vezes quando se fala de educação logo se pensa na aquisição de conhecimentos, no ensino e, portanto, na escola. E, sobretudo, na escola pública.
O Estado vinha sendo acusado de gastos desproporcionados com a escola pública, numa espiral experimentalista, com inconsequentes experiências a que não era dado o necessário tempo para uma correcta aferição da sua validade. Os resultados eram manifestamente insatisfatórios.
Nos últimos anos foram adoptadas mais algumas medidas. Entre elas podem ser destacados o apoio a uma maior durabilidade de compêndios, livros e material escolar, a decisão por uma maior avaliação e fidelização de professores à escola, a opção pelo prolongamento da escolaridade obrigatória e pela escola (pública) a tempo inteiro.
Parece consensual o reconhecimento da consistência de algumas dessas medidas. Também parece consensual o reconhecimento de que nem sempre algumas delas foram anunciadas da melhor forma, no melhor contexto, com o maior envolvimento, com a melhor lisura e com o necessário afecto. Pelo que, uma vez mais, os resultados poderão não corresponder às expectativas.
É o que parece que muitos começam a temer. Não tanto por causa do aumento de casos de violência e insegurança nas escolas, como, sobretudo, porque não se fomentaram os envolvimentos e os afectos à volta das medidas. E sem isso, não restam dúvidas, as vontades são mais voláteis que os tempos...

2. Apesar de quase só se pensar na escola ao falar de educação, no entanto, inicialmente, a educação desenvolve-se na família, sem falar desse “meio-termo” que é constituído pela rua, o desporto, os movimentos de juventude, os media, a comunidade e as igrejas. Pensa-se no ensino, como se a educação não fosse tanto física, estética, moral, afectiva, como técnica e intelectual. Pensa-se na criança, mas também os adultos estão a educar-se sem cessar, mesmo que não seja senão pela experiência da vida. Como dizia Platão, “são necessários cinquenta anos para fazer um homem”.
É necessário utilizar o termo educação no sentido total. Mutilá-lo é mutilar o homem. Educar envolve colocar o educando no meio em que vive, mostrar-lhe as linhas de evolução do que aconteceu antes e provocar-lhe o desejo de ser delas um agente continuador. Começa nos primeiros meses de vida e é, simultaneamente, um processo e o seu resultado. É a acção consciente que permite a um ser humano desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais bem como os seus sentimentos sociais, estéticos e morais, com o objectivo de cumprir, tanto quanto possível, a sua missão como homem ou mulher, que não se limita a um conjuntural e temporal contexto; é também o resultado desta acção. Recorrendo à raiz latina da palavra, a educação é a alimentação ao mesmo tempo espiritual e material de que todo o ser necessita para se afirmar na vida pessoal e social que o espera.

3. Serão as crianças e os jovens de hoje menos bons que os de ontem?
Certamente que não.
Alteraram-se as circunstâncias em que começam a despertar para eles próprios, para o contexto que os envolve e para o futuro que os atrai.
Não estão longe os tempos em que os pais assumiam grande papel na educação dos filhos. E faziam-no com suficiente autoridade, cultivada idoneidade e envolvente afectividade, sem o que não há consistente processo educativo. Para tal em muito contribuíam as responsabilidades repartidas entre pai e mãe e as próprias especificidades enquanto homem e mulher. Muitos dos adultos de hoje são o resultado desse esforço de ontem. E não sobram grandes razões para grandes lamentações.
Claro que os contextos hodiernos são diferentes: por muitas razões. Umas que a razão conhece e outras que o coração quereria ver diferentes. E um facto provavelmente incontornável é que, doravante, o papel da família não será tão marcante.
O Estado tem as suas obrigações na tarefa educativa. Porém, não tem a exclusividade: antes do Estado, ao lado do Estado e para além do Estado há apetências, contributos e competências. Da família, da comunidade e das suas instituições.
Por exemplo: a escola a tempo inteiro é um bem quando ela é a harmonia de agentes que se envolvem para valorizar a formação pessoal, com base em capacidades que se quer desenvolver, em conhecimentos que se quer ministrar e em valores que se quer perpetuar. Nessa tarefa, o Estado tem lugar e tem obrigações, evidentemente. Mas não tem a exclusividade: a família, sempre e na medida das suas possibilidades, e a comunidade, com as suas instituições, associativas, culturais, recreativas, religiosas e solidárias, ambas, conjuntamente com o Estado, tem espaço e contributo inestimável e insubstituível. Não merecerá apoio e será de condenar um Estado que não dá prioridade a políticas de apoio à família ou as vai abandonando e que desincentiva o exercício da cidadania na iniciativa voluntária para reivindicar a exclusividade na educação. É que a educação também é “alimentação” com gratuitidade e no seio de afectos.
Provavelmente, será aí que radicará o diferendo que separa as Instituições de Solidariedade, com o seu ATL, do Governo. Até quando?

*Presidente da CNIS

 

Data de introdução: 2008-04-07



















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