Como se não bastasse a luta diária para encontrar comida e água potável, as crianças que ficaram órfãs após a passagem do ciclone Nargis, em Myanmar (ex-Birmânia), são agora alvo das redes de tráfico de seres humanos. "É um clássico numa tragédia deste género", lamenta Katy Barnett, conselheira da organização Save the Children (Salvem as Crianças), lembrando que os menores são aliciados com promessas de melhores condições de vida. Os trabalhadores humanitários continuam a ver negada a sua entrada no país por parte da junta militar, 12 dias após a catástrofe.
De acordo com as Nações Unidas, houve já um caso de duas pessoas detidas por aliciarem menores que se encontram em abrigos temporários. "Um intermediário veio e tentou recrutar crianças. A polícia interveio para os deter", disse à AFP Anne-Claire Dufay, responsável na Birmânia do Fundo da ONU para a Infância. O balanço oficial mais recente aponta para a morte de 34 273 pessoas (40% das quais serão crianças, segundo a Save the Children), havendo ainda quase 30 mil desaparecidos. Mas estima-se que o número de vítimas possa superar as cem mil pessoas.
Para a Organização Mundial de Saúde, o próximo perigo vai ser a dengue e a malária . "Vão seguramente surgir como preocupações importantes dentro de quatro a cinco semanas", indicou a porta-voz, Fadéla Chaib. Por enquanto, a prioridade são ainda os feridos e prevenir doenças infecciosas como a diarreia ou a rubéola. Oito "kits médicos", suficientes para suprir as necessidades de dez mil pessoas durante três meses, foram enviados para os locais mais afectados.
Doze dias após a catástrofe, a Cruz Vermelha continua a dizer que os sobreviventes necessitam "desesperadamente de abrigo, água potável e primeiros cuidados". A tarefa da organização é dificultada pelos entraves colocados pela junta birmanesa na entrada de trabalhadores humanitários. Bridget Gardner, a primeira responsável de uma organização humanitária internacional autorizada a visitar oficialmente os locais afectados, louvou o trabalho dos voluntários birmaneses da Cruz Vermelha: "São verdadeiros heróis da acção humanitária."
A ONU apelou ontem à junta militar para que autorizasse uma "ponte aérea" para a Birmânia, enquanto a União Europeia pediu o acesso "sem entraves" para os trabalhadores humanitários. "Até ao momento, o país não necessita dos trabalhadores humanitários especializados", assegurou o vice-almirante Soe Thein, alto responsável militar citado por um jornal governamental. As necessidades de centenas de milhares de sobreviventes "foram satisfeitas, em certa medida", acrescentou.
* Com Agências
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