Quatro em cada dez portugueses foram vítimas de violência física, psicológica ou sexual no último ano, segundo um estudo a apresentar hoje em Lisboa que revela também uma descida da violência contra as mulheres nos últimos 12 anos. O Inquérito Nacional sobre Violência de Género, encomendado pelo governo a uma equipa coordenada por Manuel Lisboa, sociólogo da Universidade Nova de Lisboa, mostra a evolução do fenómeno desde 1995, ano em que foi feito um primeiro estudo sobre o tema.
Uma das conclusões do estudo aponta para um decréscimo da violência contra as mulheres nos últimos 12 anos e um aumento significativo da percentagem de vítimas que participam a situação às forças policiais.
Em 1995, a vitimação física, psicológica e sexual situava-se nos 48 por cento. Segundo este novo inquérito nacional, que se baseia numa amostra de 2.000 pessoas (homens e mulheres), esta percentagem desceu para os 38,1 por cento em 2007.
Relativamente à participação dos casos à polícia, o estudo revela que apesar da reacção mais frequente das vítimas ser "ir calando e não fazer nada" (quer em 1995 quer em 2007), houve um aumento significativo da percentagem de pessoas que fizeram queixa às autoridades.
Quanto mais graves são os actos maior é a probabilidade de participação à polícia.
O estudo revela ainda que os homens, que geralmente reagem violentamente quando são vítimas de agressões, são também os que recorrem mais à polícia.
Nos gritos e ameaças ou nas ameaças com armas de fogo/brancas, a probabilidade dos homens recorrerem à polícia é cinco vezes maior do que nas mulheres.
A reacção "não fazer nada" corresponde sobretudo a actos de violência de pais para filhos ou a alguma violência psicológica e sexual.
Nas mulheres, a reacção mais frequente é: "não fazer nada e ir calando".
Os principais autores de violência contra os homens são do sexo masculino, mas existem também mulheres no grupo dos agressores.
Segundo o estudo, 4,2 por cento das mulheres exerceram violência física contra os homens e 21,8 por cento violência psicológica.
No caso da violência contra as mulheres, os agressores são sobretudo homens e com relações de proximidade, ou seja, maridos, companheiros ou ex-companheiros.
Relativamente às causas da violência sobre os homens, o estudo aponta como mais frequentes o consumo de álcool, os mal-entendidos e as diferenças de valores.
Já no caso das agressões às mulheres, as principais causas apontadas são o sentimento de posse, o ciúme, a mentalidade dos homens em relação às mulheres e o consumo de álcool.
O estudo indica ainda que não existe um perfil sociocultural da vítima, sendo transversal a todos os estratos sociais e ainda a todos os escalões etários.
Segundo os autores do inquérito, os resultados do estudo de 1995 constituíram um instrumento importante no apoio à intervenção ao nível da adopção de medidas conjunturais.
Passados 12 anos, o estudo actual mostra que as medidas foram importantes e devem continuar, mas os autores consideram necessária agora uma nova fase de intervenção articulando medidas a curto prazo com medidas a médio e longo prazo ao nível da prevenção.
19.06.2008
Data de introdução: 2008-06-19