Começaram com menos de uma centena, agora são quase dois mil. Na sua maioria são ucranianos, mas também há russos, moldavos e lituanos. Aleatoriamente escolheram o Grande Porto para viver. Os motivos da partida dos países de origem variam, mas todos têm um denominador comum: encontrar no país de acolhimento, uma vida melhor. O desejo de integração fez nascer a Amizade, uma associação de apoio aos imigrantes, com sede na freguesia de Rio Tinto, Gondomar. A Junta local cedeu um espaço contíguo às suas instalações para ali receber aqueles que vinham dos escombros da extinta União Soviética. Cerca de 700 imigrantes estão radicados em Rio Tinto, outros 300 em Gondomar. O grupo nasceu em 2004 com cerca de 70 imigrantes e hoje ultrapassam os 1800.
A escolha das terras lusitanas deveu-se unicamente ao facto de ser fácil entrar no país. “Compramos os vistos turísticos. Foi o país mais fácil para estarmos legalizados”, explica com um sorriso. “Calhou o Porto porque já tínhamos um vizinho cá”, desvendou sobre a escolha da cidade. E a primeira reacção à cidade foi: “Onde está o Porto?” O vizinho foi mais claro: “Já estamos no Porto”. Então Natalia percebeu que o Porto é uma cidade assente numa história “de ruas estreitas e casas de muros altos”. O pior foi enfrentar a língua. “Até hoje aprendo o português com uma professora da AMI (Assistência Médica Internacional)”, referiu. Uma dificuldade partilhada por Tatiana Bushkovskaja, também em Portugal desde 2002. “A língua foi muito difícil, mas agora após alguns anos, as dificuldades são outras”. Tatiana refere as dificuldades que o país enfrenta e que se reflecte ainda mais numa comunidade imigrante, principalmente com a dificuldade cada vez maior em arranjar trabalho de forma legal”.
A ideia de criar uma associação partiu de um grupo inicial de oito pessoas que queriam aprender português e continuar a celebrar as suas festas tradicionais. O trabalho desenvolve-se em três áreas-chave: educação, cultura e apoio social. A Amizade prepara actividades múltiplas, a maioria relacionada com a interiorização da cultura portuguesa. “Temos duas classes de meninos, nossos filhos, que estudam ucraniano e russo todos os sábados, com uma professora também ucraniana”, adiantou Natalia. Para além das aulas para os mais pequenos, continua o ensino em regime pós-laboral para os adultos e explicações pedagógicas variadas para os jovens. No domínio da cultura, a Amizade tem um grupo folclórico com 30 pessoas, grupos de dança, de teatro, de canto. As festas do calendário religioso ortodoxo e da tradição russa e ucraniana são festejadas a rigor. O apoio social à comunidade é outra das grandes áreas de intervenção da associação.
A conjectura económica nacional aumenta os problemas da comunidade. “Quando vim para Portugal, era melhor, agora cada vez mais a vida está cara e 400 euros não dão para educar os nossos filhos, pagar casa, comer, além de que em muitas famílias, há pelo menos uma pessoa desempregada”, explica Natalia. Apesar disso, tanto Natalia como Tatiana não desejam regressar ao país natal. “Temos cá os nossos filhos, que já estão habituados à cultura portuguesa. Gostamos de cá estar e na Ucrânia vivemos sempre a pensar no dia de amanhã. Estamos tranquilos”, comenta a presidente da Amizade entre sorrisos. O desejo de ficar é também o de Tatiana, natural da Sibéria, na Rússia, que para além das razões de segurança e estabilidade que encontrou em Portugal, refere “o sol lindo que vocês aqui têm”. Não há inqueritos válidos.