Os ciganos em Portugal continuam a ser marginalizados nos serviços públicos e sem uma habitação condigna ou acesso a um emprego: participam pouco na identificação e resolução dos seus problemas perante uma sociedade que não lhes dá voz e os discrimina.
O alerta é deixado pela secção portuguesa da Amnistia Internacional no dia em que a organização não governamental de defesa dos direitos humanos apela à União Europeia e aos seus Estados-membros para que “tomem iniciativas concretas para acabar com o ciclo de discriminação, exclusão e pobreza da etnia cigana”.
O apelo surge na véspera da II Cimeira Europeia para a Inclusão do Povo Cigano, que se realiza na cidade espanhola de Córdova, e na sequência de um relatório da organização que denuncia os “desalojamentos forçados” e a “dificuldade de acesso à habitação” de ciganos na Bulgária, na Grécia, na Itália, na Roménia e na Sérvia.
A presidente da secção portuguesa da Amnistia Internacional, Lucília José Justino, apontou que a comunidade cigana em Portugal continua a ter dificuldades em aceder a serviços públicos, nomeadamente de saúde, a necessitar de uma habitação condigna e possui pouca escolaridade e escassas oportunidades de emprego.
“Dar-lhes voz e não decidir por eles”
Segundo Lucília José Justino, Portugal “não tem ainda abertura” para dar emprego a um cigano, que, por isso, “não tem interesse em estudar”. Para a responsável, se “há uma percepção negativa” em relação aos ciganos por parte da sociedade, que deve “dar-lhes voz e não decidir por eles”, a verdade é que são a comunidade com “menos participação activa na identificação e solução dos seus problemas”.
A dirigente lembra, a este propósito, que os ciganos, além de estigmatizados e discriminados, “têm medo de perder a sua cultura”, de se “abrir à diferença” e também discriminam: as mulheres e elementos de outras comunidades da mesma etnia. O desafio, defendeu, está em promover a sua “inclusão social” com o “empenhamento” da comunidade cigana e da sociedade porque ambos “têm direitos e responsabilidades”.
A secção portuguesa da Amnistia Internacional estima que existam no país 30 a 50 mil ciganos. Há cerca de um mês, o comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, alertara o Governo português para as condições de alojamento “deploráveis” dos ciganos, reclamando medidas e realçando com “preocupação” a discriminação de que são alvos.
Fonte: Público
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