É lançado, hoje (21 de Setembro) pela Porto Editora, o primeiro dicionário de Língua Gestual Portuguesa (LGP). O local escolhido para a apresentação é a EB 2/3 de Paranhos, no Porto – parte de um agrupamento de referência com quase uma centena de alunos surdos da região Norte.
A visita de jornalistas à escola onde alunos, do 5º ao 9º ano, finalmente tiveram uma oportunidade de sair do silêncio profundo do isolamento, conviver com outros semelhantes e aprender como os meninos ouvintes, causa uma excitação mais perceptível do que quaisquer interjeições de entusiasmo no pavilhão do lado.
A expressividade é natural para quem comunica com as mãos, que tudo querem saber e que nos buscam os olhos, freneticamente. “Qual é o teu nome gestual?”, pergunta-nos o João, traduzido pelo professor que, para eles, é o “C barbudo” (Carlos Afonso). A professora “Sardas” (Olinda) explica-lhes que não temos tal nome e que não sabemos comunicar em LGP. Nesse momento, temos a certeza: a falha é nossa.
E a falha foi também de todo um sistema que, até ao recente decreto lei nº 3/2008, não reconhecia a LGP como língua materna destas crianças, tendo-as deixado à mercê da boa vontade (ou não) dos professores do ensino normal, geralmente com maus resultados. A LGP desenvolveu-se na “clandestinidade”, entre grupos restritos de surdos, sem qualquer forma de poder ser fixada, uniformizada, padronizada.
A importância de um dicionário de Língua Gestual Portuguesa, segundo Carlos Afonso, coordenador da Educação Especial no agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade (Paranhos, Porto), reside nesse carácter de registo duradouro, “das palavras e da gramática gestual, capaz de apoiar professores e alunos, sendo uma ferramenta” também de referência, doravante, para a educação bílingue.
A autora, Ana Bela Baltazar, intérprete de LGP há vários anos e conhecida também pela tradução da “Praça da Alegria”, diariamente, na RTP, sabia que “havia uma grande procura por uma ferramenta deste género, sem respostas do mercado”.
Há quatro anos, concebeu o projecto, durante três anos trabalhou nas mais de 5200 entradas do dicionário, com a colaboração do marido – filho de surdos – e, por fim, sugeriu à Porto Editora que o lançasse na escola onde, há muito tempo, foi intérprete de surdos.
“Os surdos, regra geral, dominam muito mal o Português. Espero que, com esta obra, lhes seja mais fácil”, revelou Ana Bela Baltazar, ao JN.
Os gestos não são estáticos, como tal um dicionário de LGP não poderia basear-se apenas em desenhos ou fotografias.
O dicionário de LGP inclui, por isso, um DVD-ROM com vídeos para cada entrada e vai custar cerca de 30€.
Fonte: Jornal de Notícias
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