JANEIRO DE 2010

Só com benzina... por Henrique Rodrigues

1- Começo por prevenir de que sou suspeito. Sou, há anos, amigo do Dr. José Silva Peneda e pertenço ao grupo dos que entendem que o seu exercício como Ministro do Emprego e da Segurança Social marcou um tempo novo.

Trata-se de um grupo numeroso entre a nossa gente, que lembra ainda que foi com ele que a UIPSS estabeleceu o quadro normativo que até hoje tem regulado, de forma exemplar, a cooperação entre o Estado e as instituições particulares de solidariedade social.
Deve-se-lhe o abandono de uma cultura pública tutelar de vistas curtas e que fazia da desconfiança o sistema, substituído por um entendimento leal e eficaz. 

Sou suspeito, como disse. Mas não quero deixar de assinalar o recente abandono do Dr. Silva Peneda, por decisão sua, das funções de administrador da Lusomundo Media, por ter entendido que andava por lá a mandar quem cuidava pouco de cumprir as regras.
Os tempos vão escuros quanto à liberdade de imprensa, respira-se mal e, mesmo de forma intuitiva, a nossa imediata solidariedade vai para quem atira as pedras que permitem agitar o charco.

2- O mal é que não é apenas a intuição que nos diz de que lado devemos estar. A lúcida análise dos factos leva-nos para o mesmo lado e adverte-nos para o risco que corre o nosso direito de dizermos e escrevermos o que pensamos sobre as coisas.
Não resisto a lembrar o percurso recente do Jornal de Notícias - sempre o meu pendor nortenho -, pertencente ao referido grupo Lusomundo-PT.
Era um dos jornais do Estado, por força indirecta das nacionalizações do gonçalvismo, e foi reprivatizado.
Com aquelas boas intenções que a gente nunca sabe se são ingénuas, se são sonsas, a lei definiu então como prioritária a atribuição dos jornais a cooperativas de jornalistas da própria publicação, no processo de privatização. 

Rapidamente se constituiu uma para o JN... Que, logrado o objectivo, tão rapidamente como ficou dona, tratou de vender o jornal ao grupo Lusomundo, então do coronel Luís Silva. (O espírito cooperativo era escasso...).
Que, mais tarde - há bem pouco tempo, aliás -, o vendeu à PT, a holding que no Estado, como os buracos negros, absorve tudo quanto é matéria em sede de comunicação social. É dona do JN, do DN, da TSF; enfim, da maior parte da comunicação escrita e da nata da comunicação falada.
O presidente da Administração é nomeado com aval do Governo.
Isto é, o JN, nacionalizado em 1975, lá voltou há pouco ao redil do Estado e, pela primeira vez na sua história centenária, passou a ser mandado directamente de Lisboa.
Pelo caminho, deu dinheiro a ganhar a muita gente. À nossa custa!

3- Dono de tanta imprensa, o Governo manda ainda na RTP e na RDP. São casas que têm gente decente, e independente, a trabalhar. Pelo que o ministro da Propaganda já veio dizer que era independência a mais, e que havia mister de tornar mais dóceis tais estações.
Neste panorama de tão opressiva avalanche informativa sob controlo do Governo, percebe-se mal a razão por que o ministro porta-voz quer garantir o "contraditório" num simples programa semanal de análise política. 

Contraditório, como? Quer impor ao Prof. Marcelo que envie antes do programa um guião a uma qualquer comissão de exame prévio, explicitando sobre o que vai falar - para chamar um painel, uma assembleia, que o contrarie?
Com tanta imprensa por conta, não será antes o Governo quem precisa de contraditório? 

É por nos lembrarem que isto da democracia tem às vezes incómodos para quem manda, como ouvir as críticas que só os sistemas autoritários silenciam - mas que tem que ser assim -, que dá algum alento assistir a reacções como a do Prof. Marcelo, do Dr. Silva Peneda, do Dr. Henrique Granadeiro.
E perceber que, mesmo no seio da maioria que governa, ainda há quem pense que não é preciso dobrar a cerviz aos Gomes da Silva deste mundo - e que mais vale, como dizia o Eça, limpá-los com benzina.
Ficaremos todos a respirar melhor.

E pronto. Está dito! "Quod scripsi, scripsit".
Cá ficamos à espera do telefonema e do pedido de contraditório.

* Presidente da Direcção do Centro Social de Ermesinde

 

Data de introdução: 2004-11-27



















editorial

NO CINQUENTENÁRIO DO 25 DE ABRIL

(...) Saudar Abril é reconhecer que há caminho a percorrer e seguir em frente: Um primeiro contributo será o da valorização da política e de quanto o serviço público dignifica o exercício da política e o...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Liberdade e Democracia
Dentro de breves dias celebraremos os 50 anos do 25 de Abril. Muitas serão as opiniões sobre a importância desta efeméride. Uns considerarão que nenhum benefício...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Novo governo: boas e más notícias para a economia social
O Governo que acaba de tomar posse tem a sua investidura garantida pela promessa do PS de não apresentar nem viabilizar qualquer moção de rejeição do seu programa.