Desemprego, corrupção, imigração, saúde e consumo são factores apontados como obstáculos para a segurança humana em Portugal, de acordo com dados do relatório de 2004 da Social Watch.
O relatório da Social Watch, iniciativa criada em 1995 durante a Cimeira Mundial para o Desenvolvimento, em Copenhaga, e que reúne organizações da sociedade civil de 60 países, diz que o contexto em Portugal é de "crise económica, insatisfação generalizada e falta de expectativas".
O documento, que retrata a realidade de 50 países, será lançado no Brasil na próxima terça-feira, na Câmara dos Deputados. O texto referente a Portugal é assinado por membros da OIKOS, uma organização não governamental humanitária portuguesa.
O relatório afirma que "cresce a impressão de que na democracia portuguesa reina uma cultura de irresponsabilidade e impunidade" e aborda o problema do endividamento das famílias e do aumento do desemprego em Portugal.
"Nas últimas décadas, os portugueses tornaram-se fortes consumidores e as mudanças na conjuntura económica não fizeram com que moderassem os seus gastos. O altíssimo nível de endividamento das famílias (à) agravou-se drasticamente", diz o documento.
Segundo dados do Banco de Espanha e da Associação Portuguesa de Consumidores, 96,6 por cento das famílias portuguesas estavam endividadas em 2001. Apesar de indicadores sócio-económicos, como educação, informação, ciência e tecnologia, colocarem Portugal entre os países em melhor situação ou acima da média, o Social Watch alerta para o problema da corrupção no país.
Os casos de corrupção incluem subornos, grandes delitos económico-financeiros, tráfico de influências, fraudes em licitações e encobrimento de responsabilidades penais. O relatório sobre Portugal aponta também o problema dos imigrantes no país, que actualmente representam cerca de cinco por cento da população.
Três em cada quatro portugueses opõem-se ao novo fluxo migratório, segundo o documento da Social Watch, ainda que quase todos se manifestem contrários a um tratamento desigual para os imigrantes.
Na área da saúde, "o sistema público não oferece respostas a tempo e está constantemente à beira do colapso", diz o texto, citando organismos internacionais que atribuem esta situação à "má administração".
Um dos grupos sociais mais vulneráveis à conjuntura adversa em Portugal é o dos deficientes, de acordo com o relatório. O documento assinala que "Portugal ocupa um lamentável primeiro lugar na União Europeia em matéria de acidentes de trânsito". Cinco pessoas morrem em média por dia no trânsito e 19 sofrem lesões graves, sendo as principais causas dos acidentes o excesso de velocidade, as manobras perigosas e o consumo excessivo de álcool.
O Social Watch salienta a necessidade da organização dos cidadãos portugueses para enfrentarem os desafios e "tomarem iniciativas conjuntas de defesa de seus legítimos interesses e desejos".
Data de introdução: 2004-12-02