Portugal é um país “moderadamente” amigo dos idosos. Esta é a conclusão da segunda edição do ranking elaborado pela organização «HelpAge International». Portugal ocupa a 37.ª posição no índice de bem-estar que assinala o Dia Internacional do Idoso – o «Global AgeWatch Index» – e mostra que o País não vai além do meio da tabela liderada pela Noruega, permanecendo num limbo entre a cauda da Europa Ocidental e a dianteira do mundo menos desenvolvido.
Os autores do ranking, coordenado pela Universidade de Southampton, Inglaterra, destacam um problema de sensibilidade. “Uma comparação da Noruega com Portugal mostra a diferença que faz um apoio forte da sociedade civil e do Governo”, lê-se no capítulo dedicado à Europa Ocidental no relatório que acompanha o índice. “Enquanto os idosos na Noruega beneficiam de associações bem equipadas, reconhecimento público das temáticas relacionadas com o envelhecimento e uma longa tradição de Estado Social, as pessoas mais velhas em Portugal sofreram o embate das medidas de austeridade nos últimos quatro anos”, acrescentam os relatores, invocando os cortes nas pensões e a redução nos apoios nos transportes.
Não é difícil encontrar outras diferenças. Os noruegueses têm uma esperança de média de vida um pouco maior do que a dos portugueses: 81,9 anos contra 80 anos. Mas o problema está nos pormenores: aos 65 anos, um português pode contar com mais seis anos de vida saudável e um norueguês vive mais 15 anos de boa saúde. As diferenças no estado da saúde da população e no nível de instrução – em Portugal o mais baixo da Europa e na Noruega dos mais elevados – espraiam-se para outras áreas: a taxa de emprego entre a população norueguesa mais velha, entre os 55 e os 64 anos, é de 70,9%. Em Portugal situa-se nos 46,5%.
Na Noruega, existe uma pensão mínima para idosos sem rendimentos, que todos os anos é ajustada à evolução do custo de vida e é atribuída a partir dos 67 anos. Actualmente, ronda os 1.689 euros/mês contra os 254 euros auferidos pelos idosos nas mesmas circunstâncias em Portugal (ou que tenham apenas rendimentos até 197 euros/mês), isto já contando com o Complemento Extraordinário de Solidariedade. Abaixo dos 70 anos, o valor é de 235 euros, menos de metade do salário mínimo.
Em termos de reconhecimento público, a Noruega tem também um órgão que não existe em Portugal: um Conselho Nacional para os Cidadãos Seniores. Foi instituído em 1970 – quando em Portugal as pensões de velhice ainda nem cobriam toda a população, só quem tinha feito descontos – e é designado pelo governo para apoiar a elaboração de políticas dos vários sectores para melhorar as condições de vida da terceira idade e também a sua inclusão.
O relatório é elaborado com base em indicadores de quatro áreas – rendimentos, acesso à saúde, aptidão e, o que os investigadores chamam de, «ambiente facilitador». Se nos dois primeiros o país surge enturmado com os melhores, em termos de inclusão e suporte social cai para o fundo da tabela.
Asghar Zaidi, um dos coordenadores do ranking, explicou ao jornal «i» que a baixa taxa de empregabilidade e também o nível de instrução da população mais velha acabam por explicar a posição de Portugal no índice, que os autores classificam como “moderada”.
“O conselho mais importante e óbvio para Portugal seria planear antecipadamente, quer reformulando o sistema de pensões de forma a garantir segurança financeira na terceira idade, mas também investindo em hábitos de vida saudáveis que melhorem os resultados de saúde na população mais velha”, sustenta Zaidi, que esteve por detrás do desenvolvimento académico deste ranking lançado no ano passado.
Por agora, atrás de Portugal na Europa Ocidental, surgem apenas Itália, Malta e Grécia. Nesta edição foram analisados 96 países com dados disponíveis. Moçambique e Afeganistão ocupam os últimos lugares, mas ainda são países jovens. Em Portugal um quarto da população tem mais de 60 anos, no Afeganistão apenas 3,9% e em Moçambique 5,1%.
Fonte: «Jornal i»
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