1. A Génese. Na origem das nossas instituições uma chama se acende na alma daqueles e daquelas que lhe dão corpo: a utopia de incluir e integrar todas as pessoas, o sonho da solidariedade, a missão da justiça e da coesão social.
2. O que a chama da solidariedade não é. Não é um fogo fátuo, um espectáculo pirotécnico para dar nas vistas, um evento social para escamotear a falta de compromisso, um caridadezinha balofa e hipócrita para descargo das consciências. Fiquemos com esta elucidativa história de Quino, criador argentino de Mafalda, a contestatária. Numa das suas hilariantes e lúcidas tiras pôs Susaninha a dizer à amiga: “Também fico com a alma ferida quando vejo os pobrezinhos, acredita! Mas quando formos senhoras faremos uma associação de caridade. E organizaremos chás e banquetes com perú, lagosta, leitão... para arranjarmos fundos para comprarmos farinha, massa, pão e essas coisas que comem os pobres. Mais, faremos corridas, campanhas, marchas, etc....para darmos a entender à populaça que fazemos muito por eles”.
3. A Chama do compromisso efectivo e afectivo. Momento a momento, hora a hora, dia a dia, a chama que se acende no coração das nossas instituições é o empenhamento efectivo e o envolvimento afectivo com as pessoas - crianças, jovens, adultos, famílias, doentes, idosos, solitários. O nosso compromisso é sobretudo e preferencialmente com os marginalizados e os que se sentem marginalizados, as “sobras”.
4. A Chama da solidariedade tem de ser solidária e cooperante. Qualquer chama isolada, diminui de intensidade e apaga-se. Qualquer instituição encerrada sobre si mesma, sem articulação, sem cooperação, autodestrói-se. As intuições do sector social e solidário são, e terão cada vez mais de ser, por natureza e identidade, solidárias e amigas umas das outras. Neste âmbito, a cooperação e a parceria activa com as entidades governativas e outras é fundamental para dar cumprimento à sua missão e actuação. Há muito caminho por fazer, pistas por abrir e novas soluções a encontrar...
5. A Chama que se reinventa. As sociedades mudam. As pessoas modificam-se. As questões e as problemáticas sociais alteram-se permanentemente. As nossas organizações têm o imperativo de se renovar permanentemente, tomar novas iniciativas, abrir novos horizontes, inventar novas metodologias e actuações. Reinventar-se para melhor servir!
6. Que a Chama esteja sempre viva. “Nenhuma faca corta o fogo”. Com esta expressão de Herberto Hélder, expressamos o nosso voto de que nada nem ninguém apague e estrague a chama da solidariedade que esteve na génese, que alenta o compromisso permanente e quotidiano das pessoas que dão corpo e vida às nossas instituições. Que saibamos festejar a solidariedade e que a festa seja um fôlego e um alento novos para o nosso compromisso empenhado, constante e solidário.
Francisco Caldeira (Presidente da UIPSS Madeira)
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