No passado dia um de Outubro, realizou-se o referendo sobre a independência da Catalunha. A consulta, que provocou uma grande expectativa mediática, traduziu-se num resultado maciçamente favorável a essa independência, mas foi considerada ilegal pelo governo de Espanha, por se ter realizado à margem da Constituição e de todas as regras que esta impõe para a validação de uma tal consulta.
Por coincidência, e uns dias antes deste, teve lugar um outro referendo que, pese embora a sua importância, não motivou o mesmo interesse da Comunicação Social. Falamos da consulta realizada no Curdistão iraquiano, e que tinha também como questão central e única a independência daquele território. Apesar das pressões internacionais, interessadas em evitar qualquer destabilização deste território, a consulta acabou por se realizar e teve um resultado que não deixa dúvidas: os curdos do Iraque querem mesmo ser independentes.
Pode dizer-se que são algumas as semelhanças entre a situação política dos curdos iraquianos e a dos catalães, de tal modo que, ainda recentemente, houve quem classificasse o Curdistão como a Catalunha do Médio Oriente. É preciso lembrar, no entanto, que as diferenças políticas entre os dois territórios são bastante maiores que as semelhanças. A começar logo pelo facto de podermos falar de uma Catalunha no singular e de não haver um só Curdistão.
Os curdos constituem um povo a quem, no rescaldo da primeira guerra mundial, as potências vencedoras da Alemanha e do império otomano prometeram um lugar na comunidade internacional com o estatuto de estado livre e independente, eles que viviam ao longo de um vasto território onde conservaram a sua língua e guardaram a sua história e a sua cultura. A promessa foi assumida no Tratado de Sèvres, em 1920, mas dois anos depois, a promessa já estava esquecida. Pelo Tratado de Lausanne, de 1923, o território dos curdos foi dividido entre o Iraque, a Turquia, a Síria e o Irão, países onde, desde então, vêm sofrendo, mais ou menos ciclicamente, as agruras correspondentes a quase todas as minorias.
Foi no Iraque, nos tempos de Sadam Hussein, que os curdos viveram os tempos mais perigosos da sua história recente. Na sua loucura persecutória, o ditador iraquiano recorreu mesmo ao lançamento da bombas de gás para os tentar submeter definitivamente, uma decisão que teve como consequência a classificação de Sadam como criminoso de guerra. Por coincidência, foi neste país, que eles alcançaram recentemente uma relativa autonomia, uma espécie de recompensa por terem estado, desde o princípio, na frente da batalha contra as loucuras do “estado islâmico”.
No entanto, os curdos iraquianos querem mais do que essa relativa autonomia: querem a independência que lhes foi prometida, e logo depois negada, há quase um século. Uma promessa que, apesar de tudo, não será cumprida nos tempos mais próximos.
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