O sector de economia social ou terceiro sector está finalmente a despertar elevado interesse ao governo, aos actores políticos, aos sectores empresariais e à sociedade em geral, obviamente com motivações diferentes. O sector de economia social representa 5% do PIB português e tem um enorme potencial de crescimento devido ao aumento da esperança de vida dos cidadãos e também ao desenvolvimento através do alargamento da sua actividade para dar resposta a novas necessidades, por exemplo, aos cuidados continuados. De notar, que este espaço tem estado quase exclusivamente ocupado pelas instituições ligadas à Igreja Católica (Centros Sociais Paroquiais e Misericórdias) que, através de protocolos de subsidiaridade com o Estado, lutam por uma maior coesão social, redução das desigualdades e da pobreza, abrangendo as populações mais frágeis da sociedade portuguesa, procurando com a sua acção minorar o sofrimento de muitos e melhorar os níveis de educação básica da infância e juventude.
A nível da União Europeia este tema está também na ordem do dia com a marcação dum seminário para o dia 22 de Outubro, em Bruxelas, cujo tema é “Getting to the end of the tunnel: creating the right environment for the social economy” (atingir o fundo do túnel, criar o ambiente adequado para o desenvolvimento da economia social). Trata-se de uma iniciativa conjunta do Comité Económico e Social Europeu e do Parlamento Europeu.
Em Portugal, tem-se assistido recentemente a repetidos eventos organizados em parceria com a Segurança Social chamando a atenção das instituições para a necessidade de aumentar o empreendedorismo e a inovação social. No passado dia 9 de Julho realizou-se no Centro Cultural de Belém um seminário, sobre o tema da “Inovação e empreendedorismo social”, em que intervieram personalidades de vários quadrantes, desde os responsáveis pela Segurança Social de Portugal e do Brasil, como também de várias personalidades ligadas a universidades e ainda a apresentação de alguns casos de sucesso no nosso país, o caso da Amadora. O programa do seminário incluía vários painéis de debate sobre “As redes sociais e a inovação, os desafios da qualidade nas organizações sociais, o Empreenderismo Social e Gestão das Organizações num contexto de mudança.
Foram salientadas as insuficiências, problemas, dificuldades, diferentes modelos de financiamento e de gestão, as questões ligadas ao voluntariado e profissionalismo dos dirigentes, tendo sido referidas algumas orientações quanto ao rumo a seguir, mas essencialmente falou-se em QUALIDADE, realçando-se a dimensão da melhoria da qualidade na prestação de serviços e da gestão dos equipamentos como o único caminho que pode levar à eficiência do serviço e à satisfação dos utentes.
Aproveito este espaço para partilhar com os eventuais interessados, alguns aspectos que foram referidos no que respeita à questão da qualidade e inovação social:
- Qualidade é um problema mais vasto do que apenas ser centrado no cliente.
- Aumento da concorrência (exigindo melhor gestão e transparência).
- Aumento dos níveis de exigência da sociedade (a sociedade é solicitada a contribuir e quer melhores contrapartidas e melhor afectação dos recursos).
- Permeabilidade entre sectores: público / solidário / empresarial
Sugiro uma visita ao site:
www.scml.pt/511anos/seminario_ies/
Foram também referidos alguns desafios que se colocam actualmente às organizações:
a) elaborar, explicitar e comunicar a todas as partes interessadas a missão, os valores e os princípios pelos quais se orientam as instituições
- criar maior envolvimento e compromisso internos.
- prevenir os desvios da missão.
- informar a comunidade do que pode esperar da sua actuação
b) gestão para além do dia a dia
- a qualidade exige gestão integrada (planear, implementar, avaliar, ajustar)
- as dificuldades versus o imperativo da gestão estratégica a médio e longo prazo
c) ultrapassar as limitações da gestão e de liderança
- elevar as competências técnicas
-aliar as competências técnicas à compreensão, princípios e valores da economia social
d) o imperativo da eficiência do serviço
- criar uma cultura de partilha, de responsabilidade e de excelência. Fazer bem.
- mudar a cultura do conformismo
- intensificar a formação profissional de todos os recursos humanos
e) prestação de contas à sociedade
Foi recentemente anunciado pelo governo a possibilidade de jovens licenciados serem disponibilizados para as instituições para ajudarem na gestão dos equipamentos. É uma excelente ideia, já falamos nessa necessidade desde há quatro anos. Desejo que efectivamente se concretize e que as instituições estejam verdadeiramente receptivas a esta oportunidade.
José Leirião
Data de introdução: 2009-08-10